Então. Publico este
artigo, retirado da Veja on-line, (a data da publicação original é
16/07/2012), esse é o tipo de notícia
que não pode faltar no acervo do blog.
Talvez, para muitos, a
notícia possa não parecer tão surpreendente… “ah, a maioria dos animais
(mamíferos, aves etc) têm consciência, e daí, eu tenho
cachorro/gato/papagaio/etc, já sei disso por experiência há muito tempo“. Mas é
surpreendente quando vários neurocientistas resolvem admitir isso abertamente.
Porque agora, não é mais uma questão de “crença” ou de opinião… é um fato
observado cientificamente (aliás, há muito tempo, em diversos estudos e
pesquisas, mas que só agora foi colocado em termos de uma “conclusão científica” propriamente
dita).
Só abro um parênteses aqui,
a respeito do que os neurocientistas entendem por “consciência”. É uma palavra
que é utilizada em vários sentidos, podendo ser usada como sinônimo para mente,
para estado de vigília (estar acordado – consciente ou dormindo/desacordado –
inconsciente), para estado mental conhecido (consciente – razão, raciocínio,
algumas memórias etc / inconsciente – conteúdo dos “bastidores”, desconhecido
ou ignorado pela mente ou consciência), Consciência como “alma”, inteligência
divina, cósmica que habita um corpo etc. Então, para ficar claro qual é o
conceito de consciência adotado, cito o próprio dr. Low:
“As evidências mostram
que os seres humanos não são os únicos a apresentarem estados mentais,
sentimentos, ações intencionais e inteligência”, afirmou. “Está na hora de
tirarmos novas conclusões usando os novos dados a que a ciência tem acesso.”
Basicamente, os animais
também possuem uma certa consciência de si mesmos e do mundo ao seu redor
(variando de espécie para espécie, e dentro, é claro, daquilo que podemos MEDIR
cientificamente).
(O manifesto)”Representa,
no entanto, um posicionamento inédito sobre a capacidade de outros seres
perceberem sua própria existência e o mundo ao seu redor.”
É claro que é uma forma
de consciência diferente da nossa (ou pelo menos, até onde sabemos…). Mas diferente não é o mesmo que inexistente. E é isso
que todos precisam saber.
Quem entende inglês, pode
ler ou baixar o manifesto clicando aqui. http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf
Os grifos são meus:
Neurocientista explica por que pesquisadores se uniram para assinar
manifesto que admite a existência da consciência em todos os mamíferos, aves e
outras criaturas, como o polvo, e como essa descoberta pode impactar a
sociedade
"É a primeira vez
que um grupo de cientistas se manifesta formalmente quanto à existência da
consciência em animais", diz o neurocientista Philip Low
O neurocientista
canadense Philip Low ganhou destaque no noticiário científico depois de
apresentar um projeto em parceria com o físico Stephen Hawking, de 70 anos. Low
quer ajudar Hawking, que está completamente paralisado há 40 anos por causa de
uma doença degenerativa, a se comunicar com a mente. Os resultados da pesquisa
foram revelados no último sábado (7) em uma conferência em Cambridge. Contudo,
o principal objetivo do encontro era outro. Nele, neurocientistas de todo o mundo assinaram um
manifesto afirmando que todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo
polvos, têm consciência. Stephen Hawking estava presente no jantar de assinatura do manifesto
como convidado de honra.
Philip Low: "Todos
os mamíferos e pássaros têm consciência"
Low é pesquisador da Universidade Stanford e
do MIT (Massachusetts Institute of Technology), ambos nos Estados Unidos. Ele e
mais 25 pesquisadores entendem que as estruturas cerebrais que produzem a
consciência em humanos também existem nos animais. “As áreas do cérebro que nos distinguem de outros animais
não são as que produzem a consciência“, diz Low, que concedeu a seguinte entrevista ao
site de VEJA:
Estudos sobre o
comportamento animal já afirmam que vários animais possuem certo grau de
consciência. O que a neurociência diz a respeito? Descobrimos que as estruturas
que nos distinguem de outros animais, como o córtex cerebral, não são
responsáveis pela manifestação da consciência. Resumidamente, se o restante do cérebro é responsável pela
consciência e essas estruturas são semelhantes entre seres humanos e outros
animais, como mamíferos e pássaros, concluímos que esses animais também possuem
consciência.
Quais animais têm consciência? Sabemos que todos os mamíferos, todos os
pássaros e muitas outras criaturas, como o polvo, possuem as estruturas nervosas
que produzem a consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar
que animais não têm consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas
respeitados que estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais,
a rede neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer
que não sabíamos.
É possível medir a similaridade entre a consciência de mamíferos e
pássaros e a dos seres humanos? Isso foi deixado em aberto pelo manifesto. Não temos uma métrica, dada a
natureza da nossa abordagem. Sabemos que há tipos diferentes de consciência. Podemos dizer, contudo, que a habilidade de sentir dor
e prazer é a mesma em mamíferos, aves, répteis, peixes e seres humanos é muito
semelhante.
Que tipo de comportamento animal dá suporte à ideia de que eles têm
consciência? Quando um cachorro está com medo, sentindo dor, ou feliz em ver seu
dono, são ativadas em seu cérebro estruturas semelhantes às que são ativadas em
humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um comportamento muito
importante é o autorreconhecimento no espelho. Dentre os animais que conseguem
fazer isso, além dos seres humanos, estão os golfinhos, chimpanzés, bonobos,
cães e uma espécie de pássaro chamada pica-pica.
Quais benefícios poderiam surgir a partir do entendimento da consciência
em animais? Há um pouco de ironia nisso. Gastamos muito dinheiro tentando encontrar
vida inteligente fora do planeta enquanto estamos cercados de inteligência
consciente aqui no planeta. Se considerarmos que um polvo — que tem 500 milhões
de neurônios (os humanos tem 100 bilhões) — consegue produzir consciência,
estamos muito mais próximos de produzir uma consciência sintética do que
pensávamos. É muito mais fácil produzir um modelo com 500 milhões de neurônios
do que 100 bilhões. Ou seja, fazer esses modelos sintéticos poderá ser mais
fácil agora. Mas será que temos essa
necessidade?
Qual é a ambição do manifesto? Os neurocientistas se tornaram militantes do
movimento sobre o direito dos animais? É uma questão delicada. Nosso papel como cientistas não é dizer o que a
sociedade deve fazer, mas tornar público o que enxergamos. A sociedade agora
terá uma discussão sobre o que está acontecendo e poderá decidir formular novas
leis, realizar mais pesquisas para entender a consciência dos animais ou
protegê-los de alguma forma. Nosso papel é reportar os dados.
As conclusões do manifesto tiveram algum impacto sobre o seu
comportamento? Você se colocou assim: Acho que
vou virar vegetariano. É impossível não se sensibilizar com essa nova percepção
sobre os animais, em especial sobre sua experiência do sofrimento. Será
difícil, adoro queijo.
O que pode mudar com o impacto dessa descoberta? Os dados
são perturbadores, mas muito importantes. No exato prazo, penso que a sociedade deve
eliminar a necessidade de utilizar dos animais. Será melhor para todos.
Deixe-me dar um exemplo. O mundo gasta 20 bilhões de dólares por ano matando
100 milhões de vertebrados em pesquisas médicas. A probabilidade de um remédio
advindo desses estudos ser testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem
funcione) é de 6%. É uma péssima contabilidade. Um primeiro passo é excluir abordagens invasivas. Não
acho ser necessário tirar vidas para estudar a vida. Penso que precisamos
apelar para nossa própria engenhosidade e observar as tecnologias para
respeitar a vida dos animais. Temos que observar as necessidades tecnologicas
em uma posição em que ela serve nossos ideais, em vez de competir com a
natureza.
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